Agronegócio

Silagem de colostro recebe premiação nacional

Técnica que funciona como substituto natural ao aleitamento de terneiros conquistou o reconhecimento pela segunda vez

Na última semana, a tecnologia conhecida como silagem de colostro foi anunciada como uma das vencedoras de mais uma edição do prêmio de Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil. O projeto desenvolvido há 23 anos pela extensionista da Emater, Mara Helena Saalfeld, concorreu em uma categoria especial e, através do voto popular, recebeu o reconhecimento pela segunda vez. Entre os produtores que já adotaram a técnica, a resposta é positiva.

Ao completar duas décadas de existência, a premiação - que ocorre de dois em dois anos - criou uma categoria extra, na qual só poderiam ser inscritos projetos que já haviam vencido em edições anteriores e o público poderia escolher a vencedora através de votação online. E entre os três finalistas, estava a Silagem de Colostro - única iniciativa do Rio Grande do Sul participante. As outras duas concorrentes eram da Bahia e de São Paulo. Aos 63 anos de idade, Mara Helena não escondeu a emoção ao ter seu projeto anunciado como ganhador da “Especial 20 anos”.

“Quando Deus me deu a orientação para fazer a silagem de colostro eu sabia que era algo que daria muito certo. Fiquei muito feliz, porque é uma tecnologia simples e tem uma potencialidade bárbara. É a solução para alimentar de forma econômica e eficiente os terneiros”, comenta. Além da certificação e do troféu, houve um reconhecimento financeiro de R$ 100 mil para serem usados na divulgação e na implementação da tecnologia no Brasil e no mundo.

Essa é a segunda vez que a técnica vence a premiação. A primeira foi em 2007, quando a extensionista da Emater inscreveu a iniciativa na categoria Meio Ambiente e Renda. Na época, jurados realizaram o julgamento e o reconhecimento veio em primeiro lugar. Assim como este ano, foi entregue uma certificação, troféu e uma quantia em dinheiro para divulgar o projeto e implantar nas propriedades.

O que é a silagem de colostro?

A tecnologia desenvolvida em 1998 surgiu quando Mara se tornou instrutora da Emater e percebeu que muito colostro era jogado fora e começou a buscar uma forma de armazenar o material até surgir a ideia de guardá-lo em garrafas pet. Após um ano e meio guardando o alimento, a médica veterinária resolveu testar nos terneiros. Na primeira tentativa, a recepção não foi a esperada e ela acabou percebendo que a silagem possuía um gosto diferente do leite, algo parecido com iogurte natural. Após experimentos de adaptação do animal para receber o alimento, iniciou-se uma análise do desenvolvimento dos terneiros que recebiam silagem e de outros que recebiam leite. Foi percebido que o animal alimentado com a técnica se desenvolveu melhor.

A silagem nada mais é do que um substituto natural para o aleitamento de terneiros e demais mamíferos. Para fazer, basta armazenar o colostro em garrafas plásticas durante 21 dias em local fresco - não é necessário colocar em refrigeração. Após esse período, é só misturar o alimento com água a 50°C. A cada dois litros de colostro, é necessária a mesma quantidade de água. O armazenamento do colostro pode ser feito por até dois anos e a silagem pode alimentar os animais por até dois meses.

Mara diz que, anualmente, cerca de dois bilhões de litros de colostro são desperdiçados e que a técnica, além de um reaproveitamento, ainda representa economia ao produtor, já que nos primeiros meses de vida o animal se alimenta somente com leite. Em média quatro litros e meio por dia são destinados a cada terneiro, quantidade que deixa de ser comercializada. Durante este período são consumidos em média 300 litros de leite. A médica veterinária explica que levando em consideração que é pago atualmente cerca de R$ 2,00 pelo litro de leite, o produtor deixa de receber R$ 600,00. Ela lembra ainda que geralmente nas propriedades há mais de um terneiro e que por isso o gasto é maior. A silagem também possui nutrientes como a proteína, que no leite está presente em 3% da composição e no colostro em 16%. “É um excelente alimento, não há dúvida. É muito fácil, barato e econômico”, finaliza a extensionista.

Produtores aprovam

Na propriedade de Veneida Mailahn, 43, a técnica já é utilizada há quase cinco anos. Ela conta que antes o colostro que não era consumido pelos terneiros acabava sendo descartado e que agora, com a silagem, há um reaproveitamento, e com isso o material não é desperdiçado. Veneida conta que antes de implantar o projeto alguns vizinhos falavam que não valia a pena, pois poderia trazer prejuízos no desenvolvimento do animal, o que não se confirmou. “Eu achei bem interessante essa técnica. Diziam que o terneiro perderia a qualidade, mas não perdeu nada e o que eu botava fora agora dou tudo para elas”, conta.

O produtor Guilherme Knopp, 35, conta que já conhecia a técnica há algum tempo, mas que acredita que era realizada de forma incorreta. Após orientação da Emater, voltou a implantar a silagem há cerca de um ano e o resultado tem sido positivo. “É um custo a menos que a gente tem, porque antes eu comprava leite em pó e agora não precisa mais”, comenta. Ele ainda lembra que algumas vacas chegam a produzir quase 40 litros de colostro por dia, material que antes era descartado.

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